Um Dia Difícil: reflexão de uma babysitter

Recentemente, tive um desses dias com uma criança que acompanho: não queria comer, não queria brincar e, acima de tudo, não queria estar comigo.

No início, os pais comentaram que ele se sentia assim há alguns dias. Convém não esquecer que cada comportamento é sempre uma mensagem e as crianças expressam-se através daquilo que fazem… ou não fazem.

1. “Não quero comer.”

A recusa da refeição foi o primeiro sinal. Podia ser cansaço, fome emocional, excesso de estímulos, saudade dos pais ou apenas um dia menos bom. Tentei insistir através de diferentes estratégias. Como esta criança já não comia uma refeição completa há alguns dias, achei que deveria oferecer alternativas, mas nada surtia efeito. É preocupante ver que uma criança não se alimenta.

2. “Não quero brincar.”

Brincar é natural para uma criança e quando não acontece, algo está a pedir atenção. Escolhi atividades mais tranquilas, deixei que ela liderasse o ritmo e mostrei-lhe que eu estava presente, mesmo que em silêncio. Às vezes, é nesse silêncio que a confiança cresce.

3. “Não quero estar contigo.”

Esta foi a parte mais difícil para todos. A saudade dos pais é normal e a ansiedade também. Para além de que se refletirmos sobre tudo isto, eu represento uma "ameaça", já que é a minha figura que retira a esta criança, tempo com os pais. Pois bem, em vez de levar para o lado pessoal, ofereci acolhimento. Mantive disponibilidade, olhar suave, voz calma e espaço para ela sentir o que precisava sentir.

O que é que este dia me ensinou?

Cuidar não é apenas garantir segurança e rotinas. É também estar disponível mesmo quando somos rejeitados.
É compreender que a criança não está contra nós, está a favor de uma necessidade interna que, naquele momento, ainda não sabe nomear.

Porque um dia difícil não define a criança nem define o nosso trabalho — apenas mostra que estamos a acompanhar alguém real, com emoções reais, e que essa é a parte mais bonita do cuidar.